12/12/2008

Anthony Burgess - 1985 (em homenagem à implantação dos TCCs no Dep. de Hist da UFRGS)

"Intelectuais com ambições políticas tinham de ser suspeitos pois, numa sociedade livre, os intelectuais figuram entre os desprotegidos da fortuna. O que eles oferecem - como professores, conferencistas acadêmicos, escritores - não tem muita procura. Se ameaçarem suspender suas atividades ninguém se incomodorá muito. Recusar-se a publicar um volume de versos livres ou a ministrar uma aula de linguística estrutural não é a mesma coisa que interromper o fornecimento de energia elétrica ou paralisar os ônibus. Eles não dispõem dos poderes do patrão capitalista ou dos chefes dos sindicatos. Frustrados e insatisfeitos com os prazeres puramente intelectuais, tornam-se revolucionários. As revoluções são, quase sempre, obra de intelectuais descontentes, dotados de um certo dom para a oratória. Vão às barricadas em nome dos camponeses ou dos operários porque o lema: "Intelectuais do mundo, uni-vos!" não é lá muio inspirador".


"Ou construir uma imagem romântica do operário e endeusá-lo, o que significado privá-lo de suas características humanas, ou desprezá-lo - estas eram as duas únicas alternativas possíveis para um intelectual como Orwell. Ele tinha tudo para pertencer ao Ingsoc - lia o The New Statesman enquanto os operários liam o Blighty e o The Daily Mirror. Os operários não compravam seus livros. Também não compram os meus, mas eu não me queixo. Nem cometo o erro de supor que a vida da imaginação é de algum modo superior à vida do corpo. Tanto o trabalhador das docas quanto o novelista, ambos são parte de um organismo chamado sociedade e, pense o que quiser, a sociedade não pode prescindir deles".


"O proletariado não existe. O que existe são homens e mulheres, com os mais variados graus de conscientização social, religiosa e intelectual. Considerá-los apenas em termos marxistas é tão aviltante quanto seria olhar para eles do alto de uma carruagem de vice-rei. Não é nosso dever anular as diferenças de sangue, educação, maneira de falar e até mesmo cheiro que nos separam, contraindo um matrimônio de sacrifício, fora do nosso meio social, ou passando uma segunda-feira sob o cais de Wigan. Mas temos o dever de não permitir que abstrações como classe e raça possam ser transformadas em bandeiras de intolerância, do medo e do ódio. Temos o dever de, pelo menos, tentar lembrar que somos todos - ai de nós - mais ou menos iguais, isto é, horríveis".

Um comentário:

Momo disse...

=)