24/10/2005

Kingdom of Heaven.

Ontem eu vi um filme. "Kingdom of Heaven" era o seu nome, mas algum imbecil resolveu traduzir o título como "Cruzada". Seria mais correto chamar de "Entre-Cruzadas", mas se ele traduzisse como "Reino de Consciência" ficaria lindo. Não importa. O que importa é que o filme é bom. Divertido.

Sou suspeito pra falar de filme de guerra. Sou como meu amigo Yuri/Jesus, basta ver homens armados, enfileirados, batendo as lanças nos escudos que já sinto o sangue ferver. Quando eles saem correndo em direção a guerra e a morte... quase levanto da cadeira pra ir junto. Existe algo dentro do meu peito que me causa uma reviravolta nas entranhas quando ouço os gritos de guerra. Como a guerra e a morte podem ser tão sedutoras? Será mesmo que as grandes conquistas eram motivadas apenas pelo saque, pelo controle de nações? Existe alguma válvula espiritual que torna a guerra e o sacrifício algo tão, tão divino. Acho que não é o amor pela vida que nos liga a ela. O medo da morte é o motor de tudo. E quando nos sacrificamos por algo maior é como se jogassemos toda a culpa, e todo o peso da responsabilidade que é viver, para esse "algo maior" pelo qual estamos lutando. Alçar vôo pelos céus... Através do martírio elimina-se o medo da morte, e sem ele não há nenhum motivo para viver.

Mas pelo que eu irei lutar? Por qual causa nobe um jovem latino americano no século XXI deve sacrificar-se? Não me venha com esquerdismos... Chega de matar gente e pronlongar o problema com as armas. Minha culpa por ter tido a sorte de nascer numa família de classe média eu resolvo de outra maneira. Não se pode ajudar ninguém tendo culpa, tédio ou ressentimento como motivação. Pelo que irei lutar? Sou um cristão que não acredita em Cristo,um Historiador que não acredita na História... Porque um maldito padre não prova, através de um método científico, que aquele que morre na luta pela reconquista da Terra Santa terá paz na outra vida? Não... Não... Esquece a parte da "outra vida" e substitua por "paz na morte"... viver de novo vai ser muito cansativo. Quero que me espírito evapore junto com o meu sangue derramado em batalha.

Já achei a reposta: luto pela minha própria vida... com a infelicidade dessa luta me fazer ser incapaz de morrer... Levou um tempo até eu chegar nessa resolução, mas graças a minha Hierofania eu consegui, embora eu ache que tenha trazido muito sofrimento para ela (creio que eu seja o vilão da história, e não o mocinho... serei obrigado a morrer pelas mãos do herói, seria eu um sarraceno? ou nazista? ou vietnamita? ou soviético? ou até mesmo um inglês num filme do Mel Gibson?)

Perdão minha Hierofania, perdão... jamais te esquecerei, e obrigado por tudo...

21/10/2005

Ligação Insólita

--Alô? Quem fala?
--Alô? É o Almir...
--Que coincidência, meu nome também é Almir...
--Lógico que é! Nós somos a mesma pessoa!
--Como assim?
--Ué? Não lembra? Você tava tão triste, sozinho, querendo conversar com alguém. Então, eu peguei o telefone e liguei pra mim mesmo... e cheguei até você!
--Sei... Eu me lembro disso, só que é estranho conversar comigo mesmo.
--Eu que o diga.
--Mas... é ótimo também... eu... a gente realmente tava precisando falar com alguém. Esse mundo anda tão hostil, essa solidão, essa necessidade de compreensão.
--Arrumar alguém pra conversar de verdade, né? Ser ouvido de verdade. Na maioria das vezes as pessoas não ouvem as outras, apenas esperam a vez de falar.
--Você é muito compreensível... ou melhor... eu sou.
--Convencido... A gente tinha que entender a nós mesmos, pelo menos, já que não entendemos o resto do mundo.
--Sabe... não é falta de amizade... eu tenho tantos amigos e amigas, a Aninha é um belo exemplo.
--Mas não dá pra conversar direito com a Aninha. Ela é tão gostosa que tira a minha... a nossa concentração o tempo todo.
--Tem razão... Aqueles olhos penetrantes e coloridos, aquela boca carnuda, aquela voz doce...
--Aquela bundinha deliciosa...
--Ahhh! que bumbum lindo...
--Ninguém consegue se concentrar com aquela bunda gostosa balançando pra lá e pra cá!
--Tem razão... e mesmo assim a Aninha é meio infantil, sempre os mesmos assuntos bobos, e uma ou duas fica me esnobando... esnobando a gente...
--Pois é... hoje em dia o mundo é assim, as máquinas são mais valorizadas que o ser humano, e no colégio te ensinam que o Vestibular é um monstro terrível que devora os alunos que derem a resposta errada (qualquer semelhança com a mitologia não é mera coincidência), e que no mercado de trabalho, o único jeito de subir na vida, é arrancando a cabeça do próximo!
--Puxa... eu tenho os mesmos grilos... as mesmas preocupações e idéias...
--Lógico, nós somos a mesma pessoa, imbecil!
--Ahhh! É mesmo! Eu estava sentindo falta da proximidade da compreensão... Muito se fala, pouco se entende.
--Puxa vida! Eu já to me enchendo com essa crise existencial!
--Eu não tenho pra quem ligar! Além da Aninha, somente o Mauro seria capaz de me atender, só que o Mauro só fala dele mesmo, o tempo todo!
--O tempo todo! Sujeitinho chato! Já contou pra gente mais de mil histórias sobre as namoradas imaginárias dele, que segundo ele existem mesmo, e sobre suas confusões. Vive falando mal de todo mundo, deve falar mal de nós também.
--Ele não é tão ruim assim... é um bom amigo...
--De que adianta esses amigos? Agora você não tem com quem falar, e fica me enchendo... quer dizer... enchendo a você mesmo com esse papo de solidão.
--Como você pode pensar algo diferente de mim se somos a mesma pessoa?
--Não sei, acho que talvez eu esteja tentando dizer alguma coisa para mim mesmo.
--A gente não se entende a nós mesmos tanto assim...
--É a natureza humana! Somos criaturas que não compreendem nada, mas acham que sabem de tudo.
--O ser humano não entende a si mesmo, muito menos ao próximo, e amor é compreensão, enquanto o ódio é desentendimento. Eu li uma numa história em quadrinhos: "Eu não sei porque os humanos se esforçam para entender o próximo, eles não entendem nem a si mesmos. O ser humano é um animal triste."
--Bonito isso! Triste, mas real. Só que acho que você deveria ler menos história em quadrinho, parece que nunca cresce!
--Não enche... essa conversa tá indo longe demais. Eu não costumo me abrir com os outros tanto assim.
--Mas você tá se abrindo com você mesmo! Talvez seja isso que você precise.
--Vamos terminar essa conversa, você é muito chato.
--Chato é você, oras!...
--É mesmo... esqueci de novo que eu sou você...
--Até mais... e vê se não me amola mais...

--Quando não vai pelo Amor... Vai pelo Ódio...
--Nossa... como ele é mau!...
--Você é insuportável mesmo! Como consigo conviver comigo mesmo?
--Tchau, infeliz...
--Tchau Energúmino...
"Esse foi o dia que Almir brigou consigo mesmo".