23/04/2007

Confissões...

-Padre, eu pequei...
-Pois fale, meu filho.
-Mas o meu pecado é muito grave, Padre...
-Nenhum pecado é imperdoável diante de Jesus Cristo.
-A coisa é muito feia, Padre...
-Tu tá me assustanto, guri.
-Isso tá me consumindo por dentro... Não posso mais guardar dentro de mim...
-Desembucha, porra!
-Er-hum... É que eu não sou de esquerda, Padre.
-Ahh!... hum... Eu entento, eu entendo. É complicado. Todavia, eu já desconfiava.
-Tem mais, Padre...
-Mais?
-Sim... É que eu não votei no Lula...
-Hummm! É complicado. Mas tu contaste isso para alguém do Campus do Vale?
-Sim, Padre... sabe como é... eu não seguro a minha maldita língua.
-Eu entendo. Eu entendo. Mas, fique tranquilo, meu filho. Deus é grande, e afinal de contas, a reforma política taí, vai que tu tens mais uma chance.
-Não, Padre. O senhor não compreende... Mas é que eu também não acredito em Deus...
-Hummm! Isso é muito sério, meu filho. Jamais diga uma coisa dessas, Deus ama você.
-Ama nada, Ele não passa de um Velho Sacana...
-Mas, se tu não acreditas, porque o chamas de Velho Sacana.
-Não acredito, mas O respeito. Afinal, um cara que nunca aparece e, mesmo assim, tem uma pá de gente que paga o maior pau pra Ele... Deve ser um Cara FODA...
-Não diga uma coisa dessas, meu filho. É pecado. Porém, uma coisa me intriga, se não acreditas, porque vem aqui?
-É mais barato que o psicólogo...
-Hummm!
-Foda-se... e quanto ao Lula, Padre?
-Hummm! Diante desse pecado só há uma penitência adequada.
-Por favor, Padre. Eu aceito até ajoelhar no milho para que eu possa me redimir diante da sociedade.
-Nada disso. Não há outra alternativa, tu deves te filiar ao PSOL!
-Não, Padre. Por favor, não. Diga que a auto-mutilação é o suficiente, por favor, Padre, diga.
-Nope, filho... você precisa de cura interior...

07/04/2007

Eu sou um materialista. Explico.

Quando eu era um piá, estava no máximo na quarta série do fundamental, minha professora pediu para que fizéssemos um desenho a respeito da liberdade.

As crianças realizaram suas obras, em torno de gramados verdes, imaginando-se correndo com o vento contra o rosto, numa paisagem bucólica que expressava tranquilidade e calma. Sem horário para voltar para casa. Sem ter ninguém para dizer o que fazer.

Eu não. Desde pequeno já era amargo e pragmático. Desenhei, obviamente, dois quadros que representavam um rapaz trabalhando e, no quadro seguinte, comprando comida com o dinheiro do seu trabalho. Argumentei sobre a minha idéia de liberdade com a maior naturalidade. Todos me olharam com espanto e desdém, inclusive a professora. Porém, nada me dissuadiu de que aquilo era liberdade, acima de qualquer outra idéia.

Creio que o materialismo histórico estava impresso no meu sangue, através das correntes do imaginário trabalhista. As ideologias da grama verde não me iludiram, eu sabia que, na nossa sociedade, liberdade física significa dinheiro, e liberdade moral significa trabalho.

No entanto, a maioria das pessoas de esquerda - socialistas, comunistas, anarquistas, e o escambau - pregam a revolução enquanto correm na grama verde. Ignoram que liberdade consiste em escolher os próprios grilhões.

Ignoram que - por mais que possamos gritar, berrar, ou constuir racionalidades - nós somos constituídos pelas cinzas das nossas paixões.