14/03/2010

Quando era mais jovem, e ainda sou, então quando era muito jovem, gostava de pensar como uma certa música me ensinava:

E se eu fosse o primeiro a voltar
Pra mudar o que eu fiz
Quem então agora eu seria?

Me confortava pensar que todas as minhas escolhas foram irremediavelmente certas, posto que se eu não as tivesse feito assim, agora seria eu outra pessoa, então, não poderia eu julgá-las.


O tempo passa, e pensando ser imune ao arrependimento, descobri que não o era. Não que me arrependa das coisas que fiz, muito longe disso, mas das coisas que não fiz, isso sim.


Não abandonei minha antiga filosofia, e acreditando ainda naquela música, descubro que o importante não é mais desejar ter feito as escolhas certas, mas sim desejar ser outra pessoa. Assim quando me imagino no passado, vejo a alteridade de mim mesmo, me vejo outro, gostaria de ser igualmente outro no presente.


Mas, para o passado não há remédio, resta o futuro que é uma esparramação do presente. Meu medo é justamente que o passado nos oprima de tal maneira que não se consiga fugir dele de forma a buscar o futuro diferente, restando apenas o desejo de ter sido outro no passado.


E daí que sempre oscilo em duas crenças contraditórias: que nós somos as nossas escolhas, e ao mesmo tempo nós não as escolhemos. Como se os sonhos escolhessem os homens, e não os homens aos sonhos. Se escolhemos assim, é que assim somos, assim nascemos.


Eu que acreditava no caráter certeiro, posto que irremediável, das minhas escolhas passadas, acabo acreditando que todos os meus presentes, passados e futuros, foram como que definidos pelas deusas do destino: Fiandeira, Distributriz e Inflexível.



E fico imaginando se Distributriz tivesse puxado os fios em outros momentos que não estes quando os puxou e me fez assim como sou. Se Distributriz me tivesse reservado outros destinos, quem eu seria? E se Inflexível tivesse decidido cortar o fio justo quando nasci, como deveria ter sido quando do meu nascimento, se não fosse a intervenção médica me desenrolar e cortar o outro fio, o umbilical.

Seriam minhas escolhas irremediáveis? Estaria eu condenado a ser eu mesmo?
Penso que gostaria ao menos de ser mais do que eu mesmo.

Eu gosto é do estrago.