16/07/2007

Causos da Cidade Baixa.

Da Tauromaquia, de Goya
(3° participação do espanhol no meu humilde Blog)
Estava eu andando pela República quando um rapaz, vestido como um típico morador de rua, vem em minha direção dizendo: "Eu vou te matá, filhodaputa. Eu vou te matá!"

Ele não estava se referindo a mim, e logo descobri a quem era. Ele pega uma pedrinha inofensiva no chão, e joga para trás (na direção oposta a que eu estava) para atingir um grupo de jovens de classe média. Não sei o que houve entre eles, mas o rapaz de rua estava furioso.

Não se satisfazendo com a pedrinha, ele agarra uma enorme pedra, dessas idiotas e lisas que decoram calçadas, atira com toda a força no chão para ter em mãos pedregulhos perfeitos para atirar em alguém. Não perde tempo e atira de novo contra os jovens de classe média. E eu assistindo.

Ele corre logo após atirar as pedras, e eu continuo andando até chegar mais próximo do grupo de jovens, o objeto de ódio do rapaz de rua, que indignados ao perceberem as pedras vindas do alto começam a correr, enquanto um diz: "Vamos dá um pau nele!".

Eles saem enlouquecidamente. Porém, um deles dá um pique mas logo desiste da corrida, e olha para os outros desolado. Estes não desistem, e correm atrás do rapaz de rua aos gritos de "volta aqui!".

***

Jovens de classe média e moradores de rua possuem muito em comum. Eles costumam freqüentar a Lima e Silva, adoram comer o Xis do Speed, e procuram desesperadamente sentir prazer, através de consumo, drogas e sexo. E para completar, a sedução da violência também lhes causa profunda impressão, e eles normalmente se engalfinham na sua rede. Admito que apenas uma noite abandonado nas ruas de Porto Alegre é o suficiente para abalar uma pessoa de forma irreversível, enquanto que o mau dos jovens de classe média costuma ser apenas a falta de um campo com mato alto para capinar.

Porém, vou ser sincero. Como não sou moralista posso declarar que eu não gosto de jovens de classe média, e de moradores de rua também não. Por mim o mundo seria muito melhor sem esses dois tipos sociais. Certamente somente uma pessoa como eu para traçar um paralelo entre esses dois grupos, mas eles realmente possuem alguma coisa em comum.

De todos esses que participaram da briga que contei acima, somente me identifiquei com um: o hesitante. Aquele que olha para os amigos enfurecidos e vê o quanto desprovido de significado é aquela cena toda, percebendo que a violência é sagrada demais para ser profanada por motivos tão banais. Eu sempre fui assim, jamais vi sentido em tudo aquilo que tinha valor para os jovens da minha idade.

Porém eu compreendo a fraqueza de uns, e o destino maldito de outros. O som e a fúria causam a destruição da ânsia pelo significado do sentido. Se Deus existir deve ser algo mais ou menos assim...