21/02/2007

Quebre o Espelho.



“Já suspeitamos que, ao obrigar-nos a escolher entre a geometria e o caos, entre o Saber absoluto e o reflexo cego, entre Deus e o primitivo, essas objeções movem-se na pura ficção deixando escapar tudo o que nos é e nos será sempre dado, a realidade humana. Nada do que fazemos, nada daquilo com que nos ocupamos é da espécie da transparência integral, nem da completa desordem molecular. O mundo histórico e humano (ou seja, salvo um ponto no infinito como dizem os matemáticos, o mundo ‘tout court’) é de uma outra ordem. Nem mesmo podemos chamá-lo “o misto”, pois não é feito de uma mistura; a ordem total e a desordem total não são componentes do real, e sim conceitos limites que abstraímos, antes puras construções que tomadas absolutamente tornam-se ilegítimas e incoerentes. Elas pertencem a esse prolongamento mítico do mundo, criado pela filosofia há vinte e cinco séculos, e do qual devemos livrar-nos, se queremos deixar de introduzir, no que deve ser pensado nossos próprios fantasmas”, p. 90.

“Não existe saber que não tenha necessidade de ser retomado na atualidade viva a fim de sustentar sua existência. Porém não é essa existência que deve assegurá-lo integralmente. Seu objeto não é uma coisa inerte, cujo destino total ela deveria assumir. Ele próprio é ativo, possui tendências, produz e se auto-organiza – porque se não é capacidade de produção e capacidade de auto-organização, não é nada”, p. 110-11.



Cornelius Castoriadis,
Instituição Imaginária da Sociedade.

Nenhum comentário: